quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Chuva e destruição

Temporal destelha casas, provoca enchentes e volta a causar problemas na captação do Arroio Feitoria, deixando parte da cidade sem água



Dois Irmãos viveu um fim de semana de caos. A fúria da natureza deixou um rastro de destruição na cidade. Levantamento feito nas áreas atingidas pelo temporal deste domingo contabiliza cerca de 200 pessoas desalojadas e 40 casas danificadas, além de alguns estabelecimentos comerciais.
A situação é tão crítica que o prefeito Miguel Schwengber, orientado pela Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (CONDEC), decretou situação de emergência em Dois Irmãos no início da tarde de segunda-feira. Uma notificação preliminar de desastre será enviada à Defesa Civil de Porto Alegre. O município quer tentar conseguir telhas para suprir parte do prejuízo às famílias.
A área mais atingida pela chuva de granizo e pelo vendaval foi dos bairros Portal da Serra e Bela Vista e o Loteamento Picada 48. Dezenas de famílias ficaram com as casas alagadas e outras só não ficaram na rua porque puderam contar com a solidariedade de amigos e familiares.
Desde a meia-noite de sábado até a madrugada de hoje, o Corpo de Bombeiros, a Defesa Civil e a prefeitura trabalharam para ajudar as famílias vítimas do vendaval e da enchente no bairro Portal da Serra.
De acordo com dados do Corpo de Bombeiros, 25 casas ficaram destelhadas e 13 árvores tiveram que ser cortadas e retiradas da BR 116 e de ruas da cidade. Além disso, outras 10 casas e comércios ficaram alagados e três postes de energia caíram - um chegou a pegar fogo na Picada Verão. O sentimento de perda e desespero tomou conta das famílias atingidas. Bombeiros e amigos só conseguiam amenizar um pouco do pânico. Amigos ofereciam a casa para famílias inteiras passarem a noite e bombeiros colocaram lonas no telhado para diminuir o prejuízo.
Outros bairros também foram atingidos pela força do temporal. Na Vila Becker a água quase invadiu casas. No Clube União, o domingo foi de muito trabalho. A chuva inundou a copa e a cozinha. Os campos de futebol e de areia também ficaram alagados. “Fazia 20 anos que não chovia tanto assim. Isso aqui tudo ficou inundado”, comenta Roque Blume, o Lins, presidente do União, apontando as áreas mais atingidas.

Desespero de quem
perdeu parte da casa

O vendaval arrancou o telhado da residência do casal Altecir José e Simone Bruski. Amparada por amigos e familiares, Simone estava inconformada. “Não acredito, está tudo molhado, telhado arrancado, estamos desabrigados”, disse ela, ainda muito abalada.
O pânico de Simone foi tanto ao ver sua casa destruída, que chegou a desmaiar. “Estamos comovidos com a situação dela. Temos que ajudar eles”, comentou uma amiga. O marido Altecir também com a ajuda de todos retirou roupas e itens menores da casa na tarde de ontem. “A gente estava dormindo quando começou a chover e ventar muito e até a cair granizo”, disse ele.
Outras quatro casas em volta também tiveram parte do telhado arrancado com a força do vento. Maria Juliana Scholl passou a noite em claro. “Foi desesperador. Vento forte, granizo e daqui a pouco deu um clarão e as telhas voaram. A água invadiu a casa minha casa. Deu uns 10 centímetros de altura. Logo quis tirar os móveis menores e colocar para a garagem que fica ao lado, mas quando fui abrir a porta, o telhado também foi arrancado. Foi colocado lona, mas não consegui dormi. Passei a noite preocupada”, contou a moradora.



Enchente alaga casas e
moradores precisam sair

Uma enchente deixou parte do bairro Portal da Serra alagada ontem. Arline Anita Sieb e a filha Dandara Bender tiveram que deixar a casa na rua Montenegro. Elas moram no porão que ficou com 40 centímetros de água. De pés de calços e água até o joelho, Arline retirava os móveis da casa com a ajuda de amigos e parentes. “Moro aqui desde 2001 e a água nunca tinha chegado na porta. Fui levar as roupas e móveis para a casa dos meus pais que fica em cima”, contou.
Na rua lateral a BR 116, também no Portal da Serra, Severino Felix Reis e a família estavam abaixo de chuva dentro de casa. Apenas um cômodo não teve o telhado arrancado pelo vendaval. “Acordei com a ventania e fui fechar uma vidraça. Nisso, deu um barulho muito forte e parte do telhado foi arrancado. Não sei ainda como vamos conseguir dormir aqui dentro”, contou Lovane Schneider. Na parte que ainda tinha telhado, as goteiras também não davam trégua. “Tivemos que espalhar bacias. Estamos desesperados”, relatou.

Nível do rio baixou
e algumas famílias não
quiseram sair de casa
Defesa Civil, bombeiros e prefeitura foram até o local da enchente na tarde de ontem e ficaram assustados com a situação. O nível da água já havia invadido algumas casas ribeirinhas ao rio.
Caminhões da prefeitura e bombeiros foram novamente ao local por volta das 17h para retirar as famílias e levá-las para o ginásio do bairro. O tenente Maicá chegou a conversar com as famílias, mas elas não quiseram sair, alegando que o nível já tinha baixado. “Nós somos bombeiros e estamos aqui para ajudar. O nível baixou mas se a noite chover forte a água vai voltar e invadir as casas e daí, dependendo a situação, não conseguiremos entrar aqui de carro. Se tivermos que tirar vocês de barco será muito perigoso”, alertou o comandante. Mesmo com o alerta, algumas famílias resistiram. Outras foram para casas de parentes próximos. Os bombeiros continuaram monitorando o local e até a manhã de segunda, o nível estava sob controle.

Barrancos também
desmoronaram na BR 116 e
prejudicaram o trânsito

No final da noite de ontem, dois barrancos desmoronaram na BR 116, na divisa entre Dois Irmãos e Morro Reuter. Os bombeiros trabalharam até tarde da noite e retiraram o barro com pás para liberar parte do trânsito na rodovia. O secretário de Obras, Willy Schneider, também esteve hoje pela manhã no local com uma retro-escavadeira. “Mas não temos como mexer. O local é de competência do Denit e já entrei em contato com eles. Estamos esperando um retorno e enquanto isso o local ficará sinalizado”, informou ele.