PT e PDT dão golpe mortal na oposição. “Disseram que não precisavam do meu voto”, justifica Fink |
Numa sessão com mais de cinco horas, que passou da meia-noite, Sérgio Fink quebrou o acordo que tinha com o PP e o PMDB, e foi eleito presidente da Câmara para 2011 com os votos do PT e do PDT.
A eleição da última segunda-feira desenha um novo - e surpreendente - quadro político em Dois Irmãos. Sérgio Fink passou para o lado da situação. O até então mais ferrenho opositor do prefeito Miguel Schwengber, agora é do governo; está do seu lado - pelo menos é o que indica a leitura fria e objetiva dos fatos.
- Não vou abrir mão das minhas convicções - garante o vereador do PSDB.
Se antes PP e PMDB já não demonstravam interesse em compor com Sérgio na próxima eleição, agora é que qualquer possibilidade foi por água abaixo. Os dois partidos foram feridos de morte com o que consideram uma grande traição. Jerri Meneghetti (PP) falou em “máscara que cai” e “consciência tranquila”:
- Não temos mais muita esperança de que as coisas melhorem. Como dizem por aí, “em política vale tudo”. Mas eu prefiro não pensar desta forma.
Paulinho Quadri (PMDB) alfinetou:
- O PMDB nunca roeu a corda. Se é para se vender por alguma coisa, a gente cai de pé - disse ele. - Já fui traído uma vez, Eliane, eu sei o que é isso. Mas amanhã passa. Jamais se venda por promessas - completou.
Sérgio respondeu:
- Também vou dormir muito tranquilo. Tudo o que aconteceu nos últimos dias me fez refletir. Não fui entendido. Quando nos reunimos lá em 2008, eu já dizia: “Quem não entender que um ciclo passou e que a dinâmica mudou, vai ficar fora do jogo”. Fui desrespeitado, disseram que não precisavam do meu voto e quase botaram o dedo na minha cara. Eu merecia mais respeito pelos 1.500 votos que fiz e pelo voto de minerva que tenho aqui. Mas não compreenderam isso, e hoje eu pensei um pouco em me valorizar - declarou ele.
Tânia da Silva (PMDB) disse que a oposição “cai como gato”, de pé, para logo já se levantar:
- Nós mantemos o que acordamos. Nós gostamos da boa política - concluiu a atual presidente.
DEU 5 A 4 NA VOTAÇÃO
A eleição para presidência contou com duas chapas, numa disputa entre Eliane Becker (PP) e Sérgio Fink (PSDB). A chapa 1, lançada por Paulinho Quadri (PMDB), tinha Eliane Becker (presidente), Jerri Meneghetti (vice-presidente), Paulinho Quadri (1º secretário) e Tânia da Silva (2ª secretária). A chapa 2, lançada por Antônio Renz (PDT), tinha Sérgio Fink (presidente), Eliseu Rossa (vice-presidente), Antônio Renz (1º secretário) e Joracir Filipin (2º secretário).
Com o fim do frágil acordo da oposição, a chapa 2 venceu por 5 a 4. Mesmo com votação secreta, não é preciso ser mágico para saber quem votou em quem.
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Os bastidores de uma eleição bombástica
A votação só aconteceu perto da meia-noite. Foram quase duas horas de intensa negociação |
Nos bastidores, muitos apostavam no fim do acordo e na eleição de Sérgio Fink com o apoio do PDT e do PT. Mas a construção da chapa foi um verdadeiro parto; só nasceu aos 45 minutos do segundo tempo. Antes, o que se viu na Câmara foram reuniões e telefonemas intermináveis.
Depois do intervalo, a sessão recomeçou às 22h20. Os vereadores votaram e aprovaram oito projetos de Lei, e às 22h27 a sessão foi suspensa novamente para elaboração das chapas na eleição da mesa diretora. O clima era tenso. Sérgio Fink saiu para fumar um cigarro no lado de fora da Câmara. No lado de dentro, começava uma negociação que se estendeu por mais de hora. Todo mundo (ou quase) conversou com todo mundo. Era PMDB e PP reunidos a portas fechadas com o PT; o PDT articulando sozinho. Daqui a pouco, PT e PDT estavam reunidos num canto, PMDB e PP em outro. Na sala de reuniões da Câmara foi um verdadeiro entra e sai. Não teve vereador que não passou por lá. Do lado de fora, Sérgio também era procurado para conversar. Às vezes voltava para seu lugar, sozinho. Perguntado sobre o que faria, ele contou que antes da sessão estava tudo acertado com os vereadores do PMDB e do PP para que o acordo fosse mantido. “Mas aí veio o Benete (Scherer, presidente do PP) e disse que eles não precisavam do meu voto para eleger o presidente. Quase botou o dedo na minha cara. Aí eu falei: tudo bem, então vamos para o voto”, declarou Sérgio.
Os bastidores fervilhavam e o clima pesou dentro da própria situação. O vereador Edemar Rambo, do PDT, e o presidente do PT, Paulinho Brachtvogel, chegaram a bater boca. Rambo defendia a chapa com Sérgio, enquanto Paulinho preferia lançar Eliseu Rossa do que apoiar o vereador do PSDB.
Rambo entendia que, com a situação lançando Eliseu, Sérgio cumpriria o acordo:
- Isso o PDT não aceita! Se é para avacalhar, então vamos avacalhar de vez... - ameaçou.
Paulinho retrucou, dizendo que estava pensando no governo, não no partido. Rambo não gostou:
- Tu acha justo vocês se sentarem com o PMDB e o PP e deixar nós de fora? - perguntou.
Paulinho rebateu:
- Mas vocês negociaram com o PSDB e também nos deixaram de fora!
Por fim, Paulinho deixou bem claro que era totalmente contra a união com Sérgio:
- Esse cara sempre bateu em nós. Pelas mãos do PT o Sérgio não vai chegar na presidência - afirmou.
Mas, em política, todo mundo sabe que certas convicções duram o instante de um piscar de olhos. Eram 23h25 quando PP e PMDB deixaram a sala de reuniões e apresentaram sua chapa, somente com vereadores dos dois partidos. A presidente Tânia reabriu a sessão, e o clima esquentou.
O presidente do PT ficou indignado ao tomar conhecimento da chapa da situação e imediatamente ligou para o prefeito Miguel Schwengber.
- Eles apresentaram uma chapa e nos deixaram fora de tudo. Agora sou a favor de votar no Sérgio Fink então - disse Paulinho, ao telefone.
Ele saiu da Câmara e, pelo que deu para perceber, iniciou um verdadeiro bate-boca com o prefeito. Paulinho caminhava de um lado para o outro e gesticulava muito. No outro lado da linha, Miguel relutava em aceitar o acordo com Sérgio Fink. Em determinado momento, Paulinho chegou a dizer:
- Eles (PP e PMDB) falaram uma coisa na minha frente e quando eu saí da sala fizeram outra. Aqui ninguém é filho de pai bobo! Se for assim, amanhã eu estou entregando o meu cargo de presidente do PT.
A discussão seguiu tensa. Enquanto isso, os vereadores do PDT já providenciavam um papel para a inscrição da outra chapa. No acordo articulado com Sérgio, a presidência no último ano ficará com o petista Eliseu Rossa. Antes de selar a união, Rossa também conversou com Miguel por telefone.
E assim, perto da meia-noite, finalmente foi conhecido o novo presidente. Numa chapa articulada pelo PDT e sacramentada pelo PT, a situação deu um golpe mortal em PP e PMDB. Agora, só o tempo dirá quanto tempo vai durar esse casamento.
(Pitter Ellwanger)
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