quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Sérgio Fink rompe acordo e é o novo presidente da Câmara


PT e PDT dão golpe mortal na oposição. “Disseram que não precisa­vam do meu voto”, justifica Fink
Foi uma noite mais tensa do que se esperava.


Numa sessão com mais de cinco horas, que passou da meia-noite, Sérgio Fink quebrou o acordo que ti­nha com o PP e o PMDB, e foi eleito presidente da Câ­ma­ra para 2011 com os votos do PT e do PDT.

A eleição da última segunda-feira desenha um novo - e surpre­en­dente - quadro político em Dois Irmãos. Sérgio Fink passou para o lado da situação. O até então mais ferrenho opositor do prefeito Miguel Schwengber, agora é do go­verno; está do seu lado - pelo menos é o que indica a leitura fria e objetiva dos fatos.

- Não vou abrir mão das minhas convicções - ga­rante o vereador do PSDB.

Se antes PP e PMDB já não de­mons­travam inte­res­se em compor com Sérgio na próxima eleição, ago­ra é que qualquer possibilidade foi por água abaixo. Os dois partidos foram feridos de morte com o que con­side­ram uma grande traição. Jer­ri Meneghetti (PP) fa­lou em “máscara que cai” e “consciência tranquila”:

- Não temos mais muita esperança de que as coisas melhorem. Como dizem por aí, “em política vale tudo”. Mas eu prefiro não pensar desta forma.

Paulinho Quadri (PMDB) alfinetou:

- O PMDB nunca roeu a corda. Se é para se vender por alguma coisa, a gente cai de pé - disse ele. - Já fui traído uma vez, Eliane, eu sei o que é isso. Mas amanhã passa. Jamais se venda por promessas - completou.

Sérgio respondeu:

- Também vou dormir muito tranquilo. Tudo o que aconteceu nos últimos dias me fez refletir. Não fui entendido. Quando nos reunimos lá em 2008, eu já dizia: “Quem não entender que um ciclo passou e que a di­nâmica mudou, vai ficar fora do jogo”. Fui desrespeitado, disseram que não precisavam do meu voto e quase bo­taram o dedo na minha cara. Eu merecia mais res­pei­to pelos 1.500 votos que fiz e pelo voto de minerva que te­nho aqui. Mas não compreenderam isso, e hoje eu pensei um pouco em me valorizar - declarou ele.

Tânia da Silva (PMDB) disse que a oposição “cai como gato”, de pé, para logo já se levantar:

- Nós mantemos o que acordamos. Nós gostamos da boa política - concluiu a atual presidente.



DEU 5 A 4 NA VOTAÇÃO

A eleição para presidência contou com duas chapas, numa disputa entre Eliane Becker (PP) e Sérgio Fink (PSDB). A chapa 1, lançada por Paulinho Qua­dri (PMDB), tinha Eliane Becker (presidente), Jerri Me­neghetti (vice-presidente), Paulinho Quadri (1º secre­tá­rio) e Tâ­nia da Silva (2ª secretária). A chapa 2, lançada por Antônio Renz (PDT), tinha Sérgio Fink (pre­siden­te), Eliseu Rossa (vice-presidente), An­tônio Renz (1º secretário) e Joracir Filipin (2º secretário).

Com o fim do frágil acordo da oposição, a chapa 2 venceu por 5 a 4. Mesmo com votação secreta, não é pre­ciso ser mágico para saber quem votou em quem.
 
____________________________________________________________________________________

Os bastidores de uma eleição bombástica
A votação só aconteceu perto da meia-noite. Foram quase duas horas de intensa negociação

 
Nos bastidores, muitos aposta­vam no fim do acordo e na elei­ção de Sér­gio Fink com o apoio do PDT e do PT. Mas a construção da chapa foi um ver­dadeiro parto; só nasceu aos 45 mi­nutos do segundo tempo. An­tes, o que se viu na Câmara foram reu­­­­ni­ões e telefonemas intermináveis.


Depois do intervalo, a sessão re­co­me­çou às 22h20. Os vereadores vo­taram e aprovaram oito projetos de Lei, e às 22h27 a sessão foi suspensa novamente para elaboração das chapas na eleição da mesa diretora. O cli­ma era tenso. Sérgio Fink saiu para fumar um cigarro no lado de fora da Câ­ma­ra. No lado de dentro, começava uma negociação que se estendeu por mais de hora. Todo mundo (ou quase) con­ver­­sou com todo mundo. Era PMDB e PP reunidos a portas fechadas com o PT; o PDT articulando sozinho. Daqui a pouco, PT e PDT estavam reunidos num canto, PMDB e PP em outro. Na sala de reuniões da Câmara foi um verdadei­ro entra e sai. Não teve vereador que não passou por lá. Do lado de fora, Sérgio também era procurado para conversar. Às vezes voltava para seu lugar, sozinho. Per­guntado sobre o que faria, ele contou que antes da sessão estava tudo acertado com os vereadores do PMDB e do PP para que o acordo fosse mantido. “Mas aí veio o Benete (Sche­rer, presidente do PP) e disse que eles não precisavam do meu voto para eleger o presidente. Qua­se botou o dedo na mi­nha cara. Aí eu falei: tudo bem, então vamos para o voto”, declarou Sérgio.

Os bastidores fervilhavam e o clima pesou dentro da própria situação. O vereador Ede­mar Rambo, do PDT, e o presidente do PT, Paulinho Brachtvogel, chegaram a bater boca. Rambo defen­dia a chapa com Sérgio, en­quanto Paulinho preferia lançar Eli­seu Rossa do que apoiar o vereador do PSDB.

Rambo entendia que, com a situação lançando Eli­seu, Sérgio cumpriria o acordo:

- Isso o PDT não aceita! Se é para avacalhar, então vamos avacalhar de vez... - ameaçou.

Paulinho retrucou, dizendo que estava pensando no governo, não no partido. Rambo não gostou:

- Tu acha justo vocês se sentarem com o PMDB e o PP e deixar nós de fora? - perguntou.

Paulinho rebateu:

- Mas vocês negociaram com o PSDB e também nos dei­­xa­ram de fora!

Por fim, Paulinho deixou bem claro que era to­tal­men­te contra a união com Sérgio:

- Esse cara sempre bateu em nós. Pelas mãos do PT o Sérgio não vai chegar na presidência - afirmou.

Mas, em política, todo mundo sa­be que certas con­vicções duram o ins­tante de um piscar de olhos. Eram 23h25 quando PP e PMDB deixaram a sala de reuniões e apresentaram sua chapa, somente com verea­dores dos dois partidos. A presidente Tânia rea­briu a sessão, e o clima esquentou.

O presidente do PT ficou indignado ao tomar conhecimento da cha­pa da situação e imediatamente ligou para o prefeito Miguel Schwengber.

- Eles apresentaram uma chapa e nos deixaram fora de tudo. Agora sou a favor de votar no Sérgio Fink en­tão - dis­se Paulinho, ao telefone.

Ele saiu da Câmara e, pelo que deu para perceber, iniciou um ver­da­­­deiro bate-boca com o prefeito. Pau­linho cami­nhava de um lado para o outro e gesticu­la­va muito. No outro lado da linha, Miguel relutava em acei­tar o acordo com Sérgio Fink. Em determinado mo­mento, Paulinho chegou a dizer:

- Eles (PP e PMDB) falaram uma coisa na minha frente e quando eu saí da sala fizeram outra. Aqui nin­guém é fi­lho de pai bobo! Se for assim, amanhã eu es­tou entregando o meu cargo de presidente do PT.

A discussão seguiu tensa. Enquanto isso, os ve­rea­dores do PDT já providenciavam um papel para a inscrição da outra chapa. No acordo articulado com Sérgio, a presidência no último ano ficará com o pe­tista Eliseu Rossa. Antes de selar a união, Rossa tam­bém conversou com Mi­guel por telefone.

E assim, perto da meia-noite, finalmente foi co­nhe­cido o novo presidente. Numa chapa arti­culada pelo PDT e sacramentada pelo PT, a situa­ção deu um golpe mortal em PP e PMDB. Agora, só o tempo dirá quanto tempo vai durar esse casamento.



(Pitter Ellwanger)

Nenhum comentário:

Postar um comentário