quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A família não está no fim


De 9 a 15 de agosto a Igreja Católica comemora a Semana Nacional da Família.
Em Dois Irmãos, no domingo passado, Dia dos Pais, muitos casais acompanharam as celebrações religiosas e motivaram as famílias, fazendo orações e voltando seu pensamento ao espírito familiar. No próximo sábado, dia 15, acontece a grande Caminhada da Família, saindo da Av. 25 de Julho, em frente à Biblioteca Pública , culminando com missa na Igreja Matriz de São Miguel.
Em entrevista ao Jornal Dois Irmãos, o pároco Paulo Bervian falou da atual estrutura familiar. O Tema da Semana da Família é “Família, Igreja Doméstica, Caminho para o Discipulado”. Confira a entrevista:

Que família temos hoje?
Pe. Paulo -
Todos sentem necessidade de ter uma família, desejam, querem um ambiente familiar. Não se abriu mão do sonho, embora os laços entre os membros estejam um pouco fragilizados em função do subjetivismo. Eles olham sobre o aspecto individual. Gostariam de ter uma família, mas sentem-se incapazes de agir para que a família possa existir. Eles se atem sobre si mesmos, e esquecem de buscar o espírito da família.

A família está no fim?
Pe. Paulo -
Não. Existe a necessidade de família. Rompe uma relação, e em seguida constitui-se outra. Dificilmente a pessoa fica sozinha. Muitos encontram dificuldade em manter uma relação indissolúvel, mas se esforçam para manter relações familiares. A família passa hoje em dia por uma crise de relações, mas não podemos dizer que está no fim.

Hoje, quem manda?
Pe. Paulo -
A família não é questão de mandar, mas é uma comunhão, mútua ajuda, diálogo. Pode acontecer que alguns, de forma errada, pensam-se mandantes em família, e isso fragiliza o espírito familiar. Autoridade sempre é serviço - pais sobre filhos - mas não é ditadura.

Se o filho manda, o que ocorre?
Pe. Paulo -
Por erro de concepção, de educação, deixa-se os filhos sem limites. Quando não são adequadamente educados, inconscientemente os filhos se impõem. A autoridade paterna está fragilizada, não tem coordenação dentro da família, e filhos podem tomar atitudes de mando que não lhes cabe. O pai é responsável pelo filho e deve saber o que é adequado. Pais são responsáveis para dirigir a relação dos seus filhos.

E o diálogo pais/filhos ainda existe?
Pe. Paulo -
Há famílias onde existe e há famílias onde não existe. O diálogo faz um bem enorme, cria uma relação muito bonita. Onde não existe diálogo, a família desestrutura, fragiliza o respeito e impede o crescimento do filho. Como os pais são responsáveis pelo sustento geral dos filhos, simultaneamente são também para propor valores de vida.

Qual a influência nefasta da TV na família?
Pe. Paulo -
A televisão é um instrumento. Ela não tem vontade própria. Quem deve dirigir ela são as pessoas. Pode fazer mal ou bem. Quando a família é escrava deste instrumento, está excessivamente com este aparelho, ele passa a ocupar muito espaço, e propõe ideias não aprovadas. Por outro lado, se a família consegue escolher bem os programas, encontrar o espaço adequado, faz bem. O mal não está na TV em si, está nas programações e como usamos.

Qual a influência benéfica da TV na família?
Pe. Paulo -
Existem programas culturais, altamente educativos. As pessoas têm que ter critério para escolher, conversar sobre os programas, a fim de que se tornem educativos. Se a pessoa só come, se não existe a digestão, não vira alimento. Se olhar um programa sem avaliar, é o mesmo que engolir um alimento sem tirar o proveito adequado.

A televisão é a “diversão” familiar na atualidade?
Pe. Paulo -
É uma opção, mas não deve ser a única. Tem que haver outros meios. Se for exclusivo, não é saudável.

As casas com “muitas tvs” (uma para cada quarto) ajudam a construir ou destruir a família?
Pe. Paulo -
Não aconselharia que uma casa tivesse mais de uma TV, pois não favorece o diálogo, não se comenta sobre o que é assistido. Excesso de TV não favorece a unidade da família. A tendência é cada um se fechar em seus desejos. A vida familiar e social nos exige viver em conjunto, exige conviver. No contato é que as diferenças se harmonizam.

Antigamente ia na missa a família toda - pai, mãe e filhos. Hoje vai um “representante” ou ainda vão todos?
Pe. Paulo -
Há uma diversidade muito grande de hábitos familiares neste aspecto. O ideal seria que houvesse uma concordância de ir à igreja juntos.

Pais separados com um ou mais filhos em outra família não abalam mortalmente o conceito de família?
Pe. Paulo -
Não é o ideal proposto por Deus e pela igreja. Mas nós temos que admitir que existem esses casos e essas pessoas merecem assistência e respeito. É difícil saber a causa de uma separação, e ela sempre terá algum reflexo sobre os membros da família.

A moda e o comportamento de erotização permanente, ditado pelos meios de comunicação, têm qual efeito sobre a família?
Pe. Paulo -
Isso tem um efeito negativo muito grande. Tira o respeito da sexualidade; antecipa atitudes para as quais a pessoa não está psicologicamente preparada. Muitos problemas surgem dessa atitude errada da sociedade. As pessoas perdem a verdadeira dimensão da sexualidade, não amadurecem, tornam-se objeto. Não conseguem desenvolver uma compreensão sadia de masculino e feminino; essa é uma das grandes perdas do normal desenvolvimento psicológico do ser humano. Além de comercializar a sexualidade, tal comportamento impede um amadurecimento adequado.

Nunca antes houve tantos casos de adultério, infidelidade. Como isso pode mexer na estrutura da família?
Pe. Paulo -
É conseqüência do excesso de erotização. A infidelidade se abastece da traição da confiança, do amor dos casais. Além de ser uma ofensa aos mandamentos de Deus, também deixa seqüelas muito negativas na pessoa. Muitas angústias surgem a partir de traições; machuca demais. Pessoas levam marcas profundas em seu ser a partir do que sofreram numa relação afetiva e a família sofre em sua estrutura.

O que é a “Família, Igreja Doméstica”?
Pe. Paulo -
A fé cristã se sustenta em uma comunidade. Jesus Cristo quis formar comunidade. A fé verdadeira em Deus nos motiva a unir, a nos aproximar do outro. Temos a grande igreja, mas também o lar, que seria a igreja doméstica. A primeira estrutura acontece a partir do colo, pais cultivando a fé em casa. O primeiro afeto é em casa, em seu lar, e é sagrado. Deus ama os seus através da família. Quanto mais a família é uma igreja de Deus, mais as pessoas recebem a contribuição para crescer. As pessoas vão amar a sociedade a partir da experiência de amor que fazem em casa. Lar é um lugar de fé, de oração, de cultivo da espiritualidade, de amor, de mútua ajuda. Quanto mais a família conseguir dar desse amor, mais a sociedade irá se beneficiar. A família é a base de tudo, se a pessoa não aprendeu em casa os valores, vai repercutir lá adiante.

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