Reunião na Câmara debateu problema de cães e gatos abandonados. Prefeitura não pretende construir canil/gatil
A questão dos animais abandonados ganhou o debate público na segunda-feira, em reunião na Câmara de Vereadores de Dois Irmãos. O encontro contou com a participação de autoridades, de veterinários e voluntários da causa de proteção a cães e gatos.
A construção de um canil/gatil em Dois Irmãos está descartada pela administração municipal. A ideia inicial é fazer um convênio com o canil de Novo Hamburgo. Um grupo de voluntários que já atua na cidade, tirando dinheiro do próprio bolso para cuidar de animais abandonados, pretende criar uma associação e reivindica auxílio da prefeitura, além de uma casa de passagem para cães e gatos.
CONSTRUÇÃO DE CANIL
A reunião começou com o vereador Paulinho Quadri (PMDB), que já defende a construção de um canil/gatil na cidade desde a gestão passada.
- Tem animais na rua que, quando olham pra gente, parece que pedem “me leve pra casa; me dê um lar”. Mas quando se fala em cães e gatos, muitos governantes ficam com um pé atrás. Garanto que se esses animais falassem e votassem, teriam os melhores canis do mundo, até com ar condicionado - declarou Paulinho, que já fez até um abaixo-assinado com mais de 4 mil assinaturas.
POSIÇÃO DA PREFEITURA
O secretário municipal de Saúde, Márcio Slaviero, disse que a prefeitura está preocupada com a questão, mas refutou a ideia de um canil/gatil.
- Quem me conhece sabe que sou cachorreiro. Mas começar com um depósito de animais, com um canil, é um grande problema. Antes disso é preciso criar uma política de proteção aos animais, de doação desses cães e gatos em feiras e de criminalização do abandono. Criar um canil num município com a nossa população não é a melhor alternativa - afirmou o secretário.
O chefe do Departamento Municipal de Meio Ambiente, Fábio Couto, informou que a prefeitura já está “costurando” um convênio com o canil municipal de Novo Hamburgo. Pelo acordo, Dois Irmãos teria direito a cinco vagas mensais no local e a cinco esterilizações, tendo de contribuir com ração e anestésicos.
PROTEÇÃO AOS ANIMAIS
O promotor público Wilson Grezzana destacou a necessidade de se criarem políticas públicas voltadas para incentivar a adoção de animais.
- Temos que identificar os animais abandonados, cuidá-los, protegê-los e devolvê-los ao meio em que vivem. O artigo 5º dos Direitos Universais dos Animais diz que o animal que o homem escolher para ser seu companheiro não deverá nunca ser abandonado - declarou.
CAMPANHA EDUCATIVA
Para Osvaldo Abrantes, veterinário da prefeitura, é preciso fazer um controle dos animais a fim de evitar a proliferação de doenças e estudar políticas de punição a quem abandona cães e gatos. Ele também defende a utilização de chips de identificação em animais que são recolhidos e depois seguem para adoção.
- Vejo a chipagem com bons olhos, não é um custo tão alto assim. Além disso, penso que seria muito importante fazer um trabalho especial de educação com as crianças nas escolas - comentou o médico veterinário.
Paulinho Quadri contesta a ideia do chip:
- O que adianta chipar o animal se não tem como monitorá-lo via satélite? O cara pode pegar o cachorro e deixá-lo trancado num canto - disse o vereador.
CRIAÇÃO DE ASSOCIAÇÃO
Os voluntários que atuam pela causa dos animais abandonados na cidade reivindicam apoio do poder público:
- Queremos que a prefeitura apresente algo efetivo. Nós precisamos de um espaço para deixar esses cachorros. Não dá para os voluntários levarem para casa - afirmou a arquiteta Áurea Raphalski, acrescentando que outra ação importante seria a prefeitura disponibilizar a castração de animais para as famílias carentes.
A veterinária Kátia Hoffmann destacou que o grupo já está encaminhando a formação de uma associação e reiterou a necessidade da prefeitura disponibilizar um espaço para abrigar os animais enquanto eles não são adotados.
O secretário de Saúde, no entanto, deixou claro que a administração não simpatiza com a ideia de uma “casa de passagem pública”.
- Se ninguém quiser adotar, esses animais vão ficar ali. E essa demanda que existe hoje vai aumentar muito. O que nós temos que fazer é ajudar a esterilizar esses animais e a fomentar a adoção através de feiras. A casa de passagem tem de ser bem pensada, pois a tendência é se tornar um canil - declarou Márcio.
Kátia lembrou que o grupo sempre conseguiu alguém para adotar um animal abandonado.
- Nos quatro anos que estamos nisso, sempre conseguimos um lar para os animais. Todos foram adotados - completou a voluntária Vera Sbroglio.
- Para a gente ter uma ideia da necessidade de um lugar para deixar esses animais, na semana passada uma funcionária da tua secretaria (da Saúde) ligou para nós pedindo para recolher animais no bairro São João - comentou a voluntária Áurea Raphalski.
O presidente da Câmara, Sérgio Fink (PSDB), disse que é necessária uma ação imediata da prefeitura.
- Se essas heroínas desistirem, a situação vai se agravar - afirmou ele, sugerindo a contratação de serviço de pessoa física terceirizada para fazer a esterilização de animais pelo menos até o final deste ano.
O secretário informou que a medida já está sendo providenciada e deve ser concluída em duas semanas.
O QUE FICOU DA REUNIÃO
O município não vai construir o canil/gatil. A ideia inicial é ajudar na esterilização de animais abandonados e incentivar a adoção através de feiras que podem ser semanais. A prefeitura também pretende firmar convênio com o canil de Novo Hamburgo e, segundo o secretário, é a favor da criação de uma associação dos voluntários. Com a entidade formada, será possível reivindicar recursos públicos para o tratamento de animais de rua. O ponto de conflito parece ser o abrigo para animais que aguardam por adoção. Os voluntários defendem a criação de uma casa de passagem.
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