Caroline Vieira na casa de Roque Schneider, no bairro Portal da Serra |
Começou no dia 2 de agosto e encerra em 31 de outubro o prazo para coleta de informações do Censo 2010. Com base no levantamento que está sendo feito em todo o país, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) pretende traçar uma radiografia da sociedade brasileira. Em resumo, saber quem somos, quantos somos e como vivemos. Em Dois Irmãos são 23 recenseadores fazendo o levantamento de dados em cerca de 11 mil domicílios. Até agora, em pouco mais de três semanas de trabalho, foram registrados 4.628 domicílios e, deste total, em 3.276 o trabalho foi concluído com êxito.
Em 1.068 casos, os recenseadores terão de retornar, pois os domicílios estavam fechados, e 210 foram cadastrados como vagos - ninguém está morando. Além disso, no cadastro já constam 73 domicílios como “uso ocasional”, que são chácaras e sítios. O agente censitário municipal Ivan Bender acredita que um terço dos domicílios já tenha sido visitado. Do total de visitas feitas, foram entrevistadas 9.826 pessoas; 8.832 responderam ao questionário básico e 994 ao de amostra. “O básico é um questionário rápido, de 15 quesitos. Já o de amostra, que será feito em 10% dos domicílios, pode ter até 80 quesitos. Não é o recenseador que decide qual questionário o morador vai responder”, comenta Ivan.
De acordo com os agentes censitários, 99% dos moradores colaboram e respondem ao questionário. Mas há exceções. “Já fomos xingados e até ameaçados de morte. Teve um senhor que se negou a responder na primeira vez. Voltamos lá e ele ficou mais brabo ainda, chegou a vir até o posto e nos ameaçou de morte. Tentamos resolver da melhor maneira possível, explicando sobre a importância do Censo, conversando com as pessoas. A gente espera que aqui não haja necessidade de agir como já ocorre em São Paulo, onde recenseadores só conseguem fazer o trabalho com escolta da polícia”, diz Ana Lúcia Ferro.
Além da ameaça, também teve recenseador que “foi corrido” da casa pelo dono, que era pintor, e ameaçou jogar a lata de tinta no recenseador. “Neste caso a esposa teve de intervir e o casal acabou discutindo. É complicado para nós. A gente só quer fazer nosso trabalho, e há situações em que fica bem difícil”, comenta a agente censitária supervisora, lembrando que há multa para quem não fornecer os dados - e ela pode chegar a até 10 salários.
CENSO E POLÍTICA
Quando vai a campo, a equipe de recenseadores se depara com situações adversas e até inusitadas. Correr o risco de não ser bem recebido é até normal. Mas os recenseadores estão encontrando muito mais surpresas por aí. E para driblar tudo isso, haja preparo!
Caroline Franco Vieira, que nesta sexta-feira realizou seu trabalho na rua Walter Schneck, no bairro Portal da Serra, disse que tem gente confundindo o trabalho do IBGE com política. “Uns começam a xingar o Lula, dizem para mandar o presidente falar com eles. Outros se recusam a dar entrevista e por aí vai. Tem gente até que acha que é coisa do prefeito”, comenta ela. “Nestes casos, já respondi que se a pessoa está insatisfeita, ela tem como fazer a diferença com seu voto nas próximas eleições. Tento explicar que o Censo é estatística e precisa ser feito a cada dez anos”, conclui Caroline.
Na casa de Roque Aloísio Schneider, ela foi bem recebida. Roque mora desde 1979 em Dois Irmãos e considera importante colaborar. “A pesquisa vai apontar a realidade do país”.
TRÊS POR DOMICÍLIO
É cedo ainda para fazer uma conclusão, mas o trabalho dos recenseadores, até aqui, aponta dados interessantes sobre o município. Um fato que chama atenção é que a média de pessoas por domicílio, em 2010, está em 3 pessoas. Em 2000, eram 3,3 habitantes por domicílio. “Mostra que a família está mudando, mas não quer dizer que são menos pessoas no município. Há muita gente morando sozinha, principalmente homens”, comenta Ivan Bender. O levantamento realizado até agora também aponta que há mais mulheres do que homens e que o número de crianças até 3 anos é praticamente igual ao de idosos com mais de 60. O trabalho em andamento compreende a área central e alguns setores dos bairros. Moradores do Bela Vista, Vale Verde e São Miguel, ainda não foram visitados pelo Censo.
DÚVIDAS NO CAMINHO
O IBGE utiliza uma data referência para a pesquisa em todo o país. A data que vale é entre a noite do dia 31/07/10 a 1º/08/10. Acontece que, na hora de responder o questionário, surgem situações até constrangedoras, pois quem morreu depois do dia 1º de agosto, na verdade, para o Censo “está vivo”, pois a pessoa estava viva na data que serve como referência para o cadastro. E quem nasceu depois, “não existe” na pesquisa. “É difícil. Às vezes, recém faleceu uma pessoa na família, e para os familiares fica complicado falar dela. E o mesmo é com um recém nascido. A criança está aí, faz parte da família, mas ela não existia na data referência”, comenta Ana Lúcia. Outra situação é quanto à cor. “As pessoas têm dificuldades de falar qual a cor da pele. E o entrevistador não pode deduzir por conta própria. Ele tem de fazer a pergunta e vai usar a reposta fornecida”, conclui ela.
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