sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Um apaixonado pela imigração alemã


O jornalista recém-formado Felipe Kuhn Braun, 23 anos, de Novo Hamburgo, é apaixonado pela imigração alemã. Há oito anos ele visita o interior (die Alt Kolnie) em busca de material antigo junto às fa­mílias descendentes de alemães. Atualmente, possui um acervo de 12 mil 912 fotografias das décadas entre 1860 e 1960, de famílias germânicas e cidades fundadas por alemães no sul do Brasil. O acervo fotográfico é o maior da região sobre imigração.

Felipe escreveu os livros História da Imigração Alemã no Sul do Brasil, lançado no início do ano, e Memórias do Povo Alemão no Rio Grande do Sul, concluído no final de julho. As obras foram impressas pela editora Amstad de Nova Petrópolis, com tiragem de 250 (o primeiro) e 500 exemplares. Este último é uma espécie de continuação do primeiro.
Reunir fotografias antigas que retratam os costumes e hábitos culturais dos imigrantes alemães e seus descendentes é mais que um trabalho, mas uma paixão para Felipe.

Tudo começou em 2001


Quando ele tinha apenas 14 anos. Ainda garoto, ouvia a avó contar histórias dos antepassados. Depois que ela faleceu, ele foi percebendo que muito da história oral contada pelos mais velhos estava sendo enterrada junto com eles. Ele começou então a pesquisar sobre a genealogia de seus antepassados e acabou se debruçando sobre a história de várias famílias de origem alemã. Começou em casa mesmo, partindo de uma caixa de fotos antigas da família. Foi conversando com familiares, tios e conhecidos e quanto mais material juntava, maior era a curiosidade em conhecer a história e vida do povo alemão que colonizou a região.
Em 2007, Felipe viajou para a Alemanha, na região do Hunsrück, onde visitou seis famílias para ver de onde vieram os ancestrais. Hoje já são nove anos de pesquisa e o trabalho resultou na publicação de dois livros. O primeiro, com 138 páginas, já foi traduzido para o idioma alemão para uma possível edição bilíngue. No livro estão impressas 158 fotografias antigas de acontecimentos marcantes para os descendentes de alemães no sul do Brasil. “Abordei a migração alemã pelo mundo, primeiramente a saída do Porto até o Norte da Alemanha, antes de escolherem o Brasil como destino”, conta ele.


O segundo livro

Memórias do Povo Alemão no Rio Grande do Sul é de certa forma uma continuação do primeiro e traz o desenvolvimento cultural e econômico das novas famílias aqui na região. Felipe relata as dificuldades encontradas, citando os escritos da viúva Maria Teresa Henrich, de Walachai, que na década de 1930 escreveu sobre seu bisavô Mathias Mombach, um imigrante pioneiro que defendeu a família e vizinhos de constantes ataques dos bugres, além de ter lutado nas guerras napoleônicas, tendo protegido o município de Dois Irmãos durante a Revolução Farroupilha.
Ele também deu um enfoque sobre os casamentos em que as moças alemãs vestiam preto, um costume que remonta a Idade Média e que poucas pessoas conhecem nos dias de hoje, assim como a real história por trás dessa tradição secular.
Histórias e fotografias de famílias tradicionais como Braun, Heck, Roehe, Kuhn, Jaeger, Reichert, Scherer, Schmidt, Berlitz, Boll, Hennemann e Wolf, estão no livro. Como exemplo, o Dr. Carlos Hennemann, que foi o segundo juiz de Paz em Dois Irmãos e Henrique Harri Roehe, professor, músico e violinista, e primeiro juiz de paz do município. “Eu não poderia deixar de colocar fotografias antigas das primeiras famílias e imagens de como eram as colônias na época. Escrever sobre o ensino, tão valorizado pelos descendentes de alemães... Também sobre a igreja, sobre o poder econômico dos comerciantes e sobre os ‘Musterreiter’, os caixeiros viajantes que eram na época, representantes comerciais que faziam a ligação entre as grandes empresas dos grandes centros urbanos e as casas comerciais no interior”, comenta ele. Como jornalista, Felipe faz questão de ilustrar suas obras com o máximo de imagens possível. “Escrevo a história com jeito jornalístico e bem ilustrado, o que torna o texto mais agradável e com títulos que chamam a atenção do leitor”, frisa.
Elisabeth Hess e Franz Jacob von Fries em 1878 em frente aos morros Dois Irmãos e em uma foto de família na época do Natal


3º projeto está em andamento


Felipe pesquisou e continua trabalhando muito no que pode se perder, que é a história oral. Por meio de entrevistas, documentos antigos, cartas e fotografias que ele digitaliza (e devolve depois), Felipe divide com os leitores a rica e fascinante história dos nossos antepassados. Ele tem um terceiro projeto em andamento e que deve ser publicado até o final do ano.
O livro irá reunir biografias e autobiografias dos colonizadores da nossa região. “Não posso colocar um material tão precioso numa gaveta. É preciso dividir com as pessoas. E muitos não se dão conta do valor histórico que têm fotografias que eles guardam em casa e, muitas vezes, as descartam facilmente”, comenta ele.
Quem, portanto, tiver material e quiser contribuir com o trabalho do jovem escritor, ou adquirir algum livro pode entrar em contato pelo e-mail felipe.braun@terra.com.br ou ainda acessando http://memoriadopovoalemao.blogspot.com/
Afinal, o que fica apenas na memória de cada um, pode um dia se perder...

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