sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Vereador do Morro fica “sozinho” em projeto para acabar com as diárias


Pitcha (à esquerda) ouve o colega Caçamba na tribuna: “O senhor foi muito infeliz”, disse Caçamba, referindo-se ao presidente

Foi um tiro no pé. O presidente da Câmara de Vereadores de Morro Reuter, Wanderlei Behling, o Pitcha, foi derrotado na noite de terça-feira, em sua tentativa de acabar com as diárias e adiantamentos no Poder Legislativo. O projeto de Resolução 001/2010 foi reprovado por unanimidade: 8 a 0.
Motivado pelos escândalos sobre a farra das diárias em outros municípios, Pitcha lançou a ideia do projeto, acreditando que ele seria aprovado. Na sessão de ontem, porém, nem a bancada do PMDB - partido do presidente - ficou ao seu lado.
- O que eu quero com este projeto, é criar uma espécie de proteção, para que não aconteça em Morro Reuter o que aconteceu em outros municípios. Aqui, nos últimos dois anos ninguém viajou -  justificou Pitcha, antes da votação.
O próprio colega de partido Lauri Kaefer, popular Caçamba, foi o primeiro a contestar sua iniciativa:
- Nada contra o projeto, mas o senhor mesmo falou em extravagâncias que ocorreram em Triunfo e Estância Velha. Essa ideia faria jus se o senhor fosse vereador nessas cidades. Aqui ninguém viajou porque ninguém quis gastar o dinheiro do povo; não precisa ter lei para proibir. E se alguém quiser viajar, o senhor, enquanto presidente, pode decidir se permite ou não. Mas querer proibir se ninguém viajou, é pregar moral de cueca.
Caçamba disse ainda que Pitcha foi “muito infeliz”, pois deveria ter “pelo menos procurado a bancada do PMDB para discutir o projeto antes”.
- Podemos até votar a favor, mas no próximo ano o novo presidente pode fazer outro projeto voltando as diárias. Não é necessário uma Lei para dizer se pode ou não viajar. Cada vereador tem direito de escolher.

Oposição critica e alfineta
Romeo Schneider (PDT) aproveitou para alfinetar a administração. O vereador disse que “existem coisas mais importantes para se preocupar”, citando gastos da prefeitura com adiantamentos e diárias.
- Desde 2006, além das diárias, existe uma coisa chamada “adiantamento”, e se pessoa não gastou tudo, pode devolver aos cofres públicos. Já as diárias não tem como devolver. Pois de janeiro até 31 de junho deste ano, já foram gastos R$ 30.991,11 em adiantamentos e diárias pelo Executivo. Isso é muito? Isso é pouco? Não sei... mas é isso que a gente deveria discutir. Em apenas seis meses, foram 22 mil só em adiantamentos - comentou ele, lembrando que o adiantamento costuma ser usado por motoristas que vão a Porto Alegre e servidores que participam de cursos na capital.
Assim como Caçamba, Romeo afirmou que não é preciso Lei para fiscalizar o juízo dos vereadores.
- O que a gente precisa é uma coisa chamada vergonha na cara, ter respeito com o dinheiro público.
Juliana Zimmer (PTB) criticou a iniciativa do presidente:
- Quando assumimos, em 2009, (falando em nome de PDT e PTB), tínhamos muito claro de que o nosso compromisso é fiscalizar os gastos públicos. Não precisamos de uma Lei para dizer o que fazer. Ninguém aqui viajou. Sabemos da situação do município, que a arrecadação vem caindo nos últimos tempos. O que nós não podemos admitir, é que alguém venha aqui querer impor uma Lei para os vereadores. Temos problemas mais sérios para nos preocupar - declarou a vereadora do PTB.

Pitcha: “Saio daqui muito triste”
Na votação, o projeto foi derrubado por 8 a 0.
Todos vereadores foram contra, levantando da cadeira para manifestar seu voto. O presidente, que só vota em caso de empate, ficou sentado sozinho, numa cena insólita. No final, ele lamentou a derrota:
- Saio daqui muito triste por não ter conseguido alcançar meu objetivo. É uma ideia de muito tempo, e na época de campanhas as pessoas que a gente visitava sempre perguntava sobre diárias. Só não entendo porque não aprovar, já que ninguém quer viajar. Espero que no futuro esse projeto possa voltar a esta casa - conclui Pitcha.

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