O artista plástico Flávio Scholles, pai da Rudaia e avô da Marina, divide-se diariamente entre três cidades: pela manhã pinta em Dois Irmãos, no Travessão. Á tarde atende no atelier de São José do Herval, em Morro Reuter. E à noite vai pintar e dormir em Gramado, num atelier onde não recebe nem vende. Sua obra, já consagrada, tem mais de seis mil peças a óleo rodando pelo mundo, mas é agora que Scholles começa a chegar ao ápice da maturidade artística. E aos 61 anos de idade, ele começa a perseguir uma tese que o acompanha desde sempre: os quadros que falam! De uma conversa com o Editor Alan Caldas, surgiu a entrevista abaixo.
O que o trânsito entre três cidades fez nascer no artista?
Flávio Scholles – Indo e vindo eu fui vendo situações da estrada e da vida, que acabaram por criar quatro novas séries: a série que chamo de Domingo de Ramos, a série Colheita da Macela, a série Esperando Condução Para Fábrica e a série Esperando Condução Para Creche.
O que é a nova comunicação na arte?
Flávio Scholles – Tem a ver com a linha do tempo. Antes dos gregos, analisando-se a arte, vê-se que Deus falava com os homens através da arte. A civilização grega mudou esse conceito, ao dizer que “para fazer arte” você deveria pintar um corpo com 7 cabeças e uma cabeça com 4 partes. Surgia a arte acadêmica, e por conta dessa arte racionalizada se reduziu a capacidade intelectiva do homem a 10%.
Qual o efeito disso na cultura?
Flávio Scholles – De imediato se passou a necessitar de um intermediário entre Deus e o homem, surgindo então a imagem de Jesus Cristo. A arte passa então a servir ao cristianismo, e assim segue durante 1.500 anos. Surge um papa, finalmente, que questiona a arte a acaba patrocinando um artista (Michelangelo) que pinta a Capela Sistina com todo mundo nu. É o Renascimento e a arte passa a servir ao cristianismo, aos nobres e aos acontecimentos.
Até quando vai essa fase?
Flávio Scholles – Por incrível coincidência, isso vai até o ano de 1824, quando chegam aqui na região os imigrantes europeus. É que um ano depois disso, em 1825, surgiria a máquina fotográfica, que revolucionaria a arte como se a via até então. A partir dali, a arte de “retratar” o cristianismo, os nobres e os acontecimentos sairá dos pincéis e quadros e irá para a máquina de fotografia.
O que ocorre, então?
Flávio Scholles – A arte começa seu caminho de libertação do Cristo, dos nobres e dos acontecimentos e vai para vários caminhos: Impressionismo, Fauvismo, Cubismo, Expressionismo, Arte Conceitual, Happening e chega aos dias de hoje, em que, pelo Design, tudo é arte no planeta. Veja que coisa linda: uma casa bonita é arte, uma rua bonita é arte, um carro bonito é arte. Nossas crianças estão tendo um momento maravilhoso em termos de arte.
Como conceituar esse momento?
Flávio Scholles – Pela primeira vez tudo é arte. Pela primeira vez Deus e Homem andam juntos, na arte. Pela primeira vez estamos enfeitando o planeta. E a minha tese é de que isso está ocorrendo para podermos começar a nossa caminhada pelo Universo. Nós somos os Primatas do Universo. E, dentro dessa tese, estão os quadros que falam.
Como descobriu a ideia dos quadros que falam?
Flávio Scholles – Pablo Picasso passou a vida atrás deles. Eu senti mais forte essa ideia quando fui convidado a expor na Universidade de Trier, na Alemanha. Um casal de repórteres me fez explicar em dialeto os mais de 50 quadros. Pensei que ia sair uma grande reportagem, mas saiu um quarto de página, com um quadro e um título: Quadros que Falam! Foi surpreendente, pois eles viam algo que eu de certa forma não via ainda.
Porque “quadros que falam”?
Flávio Scholles – É a nova comunicação, a comunicação pelo olhar, a comunicação universal. E o incrível é que esse novo tipo de arte só poderia surgir na América Latina e especificamente aqui neste nosso Estado, pois aqui tínhamos o mítico (dos caigangues) o místico (dos negros) e o racional (dos europeus). Esses três fatores (racional, místico e mítico) são o tripé da globalização. E como tudo é arte e o ser humano iniciou sua caminhada pelo universo, a arte terá de ser pelo olhar. Ninguém imagina, por exemplo, um extraterrestre (caso exista) chegando aqui e falando nossa língua. A comunicação vai ser pelo olhar, visual, e em termos de arte os quadros que falam são a vanguarda.
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